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28 de Julho – Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais

hepatiteA presença de cirrose hepática representa o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer do fígado, o quinto tipo mais frequente no mundo e a terceira causa de óbito por câncer, levando a mais de 500 mil mortes por ano 

 Entre as causas do câncer de fígado (hepatocarcinoma), estão as hepatites virais, especialmente as do tipo B e C. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há no mundo cerca de 520 milhões de pessoas portadoras da infecção pelos vírus das hepatites B e C. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que a prevalência de hepatite B na população geral (10 a 69 anos) é de 0,37% nas capitais e no Distrito Federal. Já a incidência da hepatite C neste mesmo grupo é de 1,38%.

Por serem doenças silenciosas, que não apresentam sintomas até se tornarem graves, grande parte dos casos de hepatites virais não é diagnosticada precocemente, razão pela qual podem se cronificar. Isso ocorre em 70 a 80% das infecções e, em média, 20% delas podem evoluir para cirrose e de 1% a 5% para câncer do fígado, apontam dados epidemiológicos (2012) do Ministério da Saúde.

A cirrose hepática está na origem de metade dos casos de hepatocarcinoma. O Dr. Rogério Alves, hepatologista do A.C Camargo Câncer Center, esclarece que a cirrose, por sua vez, está associada ao alcoolismo ou à hepatite crônica, cuja causa mais comum é a infecção pelos vírus das hepatites B ou C. “Para não desenvolver cirrose hepática é preciso controlar a quantidade de álcool ingerida, nunca ultrapassando duas doses por dia. Já a transmissão do vírus da hepatite B pode ser prevenida pela vacinação. Para a hepatite C não há vacina, porém existe tratamento”, afirma o especialista.

O problema é que milhões de pessoas no Brasil são portadoras dos vírus B ou C e não sabem. As infecções pelos vírus B e C não apenas aumentam o perigo para o avanço da cirrose, como também predispõe ao risco de desenvolvimento do tumor. Embora a cirrose esteja presente na maioria das vezes entre as pessoas com câncer de fígado decorrente da hepatite C, o mesmo não ocorre nos portadores da hepatite B que, caso se cronifiquem, podem apresentar tumor de fígado mesmo sem terem tido cirrose.

O hepatologista reforça ainda que, “hoje existem novas drogas para o tratamento das hepatites B e C que, se usadas por um tempo determinado, eliminam os vírus, impedindo a progressão da doença. Mas na maioria das vezes, o paciente não sabe que tem a doença e só descobre quando a patologia se agravou, por isso, é fundamental um check up em caso de suspeita de contaminação por um destes vírus”, alerta o Dr. Alves.

Tipos de câncer de fígado e tratamentos: a chance para o transplante

Os tumores de fígado podem ser divididos em dois tipos: câncer primário (que tem sua origem no próprio órgão) e secundário ou metastático (originado em outro órgão e que atinge também o fígado). O mais frequente, que ocorre em até 80% dos casos, é o hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular. É um câncer agressivo que possui curto tempo de evolução. Como geralmente o tumor se encontra avançado quando é feito o diagnóstico, o tempo de duplicação do volume de massa é, em média, de quatro meses. Trata-se do quinto tipo mais frequente no mundo e a terceira causa de morte por câncer, levando a mais de 500 mil mortes por ano.

Para o tratamento do câncer de fígado, um grande número de procedimentos pouco invasivos é possível, bem como cirurgias para retirar a parte do fígado comprometida, além de tratamento quimioterápico. No entanto, como 95% dos pacientes com câncer de fígado tem cirrose hepática concomitantemente, a quimioterapia convencional se torna muito agressiva. A escolha do tratamento apropriado depende de uma série de características do paciente e de seu tumor.

Caso o paciente seja diagnosticado com tumor irressecável avançado ou não responda, uma das opções de tratamentos disponíveis do Brasil é o Nexavar® (sorafenibe), terapia oral que pode aumentar a sobrevida em até quatro meses. Trata-se de um inibidor multiquinase, ou seja, que afeta o nível de atividade e função dos mecanismos envolvidos no crescimento e progressão de tumores. O sorafenibe combate tanto a angiogênese (crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam o tumor), quanto as células tumorais. Ao contrário do que acontece nos tratamentos convencionais, o medicamento oferece maior tolerabilidade e menos efeitos adversos, o que garante mais estabilidade e bem-estar ao paciente. A terapia também foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratar o câncer de rim e de tireoide.

O ganho de sobrevida proporcionado pelo tratamento com sorafenibe é fundamental para que o paciente possa entrar na fila por um transplante de fígado. Sendo que o transplante é, atualmente, o único meio de cura completa da doença.

Detecção precoce do hepatocarcinoma

Os sintomas do hepatocarcinoma são dor abdominal, massa abdominal, distensão, perda de peso inexplicada, falta de apetite, mal-estar, icterícia (tonalidade amarelada na pele e nos olhos) e acúmulo de líquido no abdômen (ascite). Alguns pacientes podem evoluir para ruptura espontânea do tumor, caracterizada por dor súbita e de forte intensidade no hipocôndrio direito, seguida de choque hipovolêmico por sangramento intra-abdominal. A maioria dos pacientes apresenta anormalidade dos níveis das bilirrubinas, fosfatase alcalina e transaminases.

Em pacientes com cirrose, o aumento brusco da fosfatase alcalina, seguida de pequena elevação das bilirrubinas e transaminases, sugere malignidade. A alfafetoproteína sérica, um marcador tumoral, se apresenta elevada em 75% a 90% dos pacientes com carcinoma hepatocelular. O tipo fibrolamelar não está associado a altos níveis desse marcador.

Já a identificação precoce do hepatocarcinoma pode ser feita facilmente através da dosagem de um marcador tumoral, a alfafetoproteína sérica, no sangue, e da ultrassonografia abdominal. Essa substância é produzida por 40% a 70% dos fígados acometidos pelo câncer, mas não é detectada no sangue de pessoas com fígado saudável. A exatidão da ultrassonografia na identificação de tumores chega a 90%.

Para um diagnóstico mais assertivo, as pessoas que estão dentro grupo de risco devem ser submetidas periodicamente à realização de exames laboratoriais e de imagem, sendo a ultrassonografia a modalidade mais recomendada. Na maioria das vezes, o câncer do fígado é identificado sob a forma de nódulos no fígado. O ultrassom, no entanto, é considerado um exame de triagem e, quando identificados nódulos suspeitos, são necessários outros exames, que podem ser a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e, eventualmente, a biópsia dirigida do nódulo.

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