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A vida não é descartável

VIDA

O mundo acompanhou chocado, nessa última semana, a repercussão de mais um atentado ocorrido, dessa vez, em Orlando, nos Estados Unidos. Se engana quem pensa que aquele ataque – ainda sob investigação das autoridades – foi apenas uma violência contra uma casa noturna, um grupo ou a um país específico.

Foi um ataque à sociedade livre, plural e tolerante. Uma demonstração de ódio e extremismo. Ficamos nos sentindo ainda mais pequenos quando assistimos cenas como essa. Tristes ao vermos a troca de mensagens entre as vítimas e seus familiares, momentos antes da tragédia. Impotentes, pensando que qualquer solução pontual – por maior que seja – ainda será pequena para evitar outros casos desse tipo que, infelizmente, tornam-se cada vez mais frequentes.

Da mesma forma, nos indignamos quando observarmos a realidade brasileira. O alto índice de violência que hoje assola nossa Nação é espantoso e desumano. Só no ano passado foram mais de 58 mil vítimas de mortes violentas. Números que podem ser comparados aos da Guerra Civil na Síria e mesmo ao Conflito de Darfur, de extermínio étnico. Além disso, foram registrados mais de 47 mil casos de estupros só em 2014 em nosso País. É vergonhoso, triste, chocante.

Por algumas vezes já utilizei esse espaço para falar das intervenções que o Estado brasileiro pode começar a adotar para que vejamos essa curva da violência diminuir. Ações que envolvam a atitude firme e planejada do Governo Federal. Nesse sentido, tem sido positiva a sinalização do novo ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, que já se reuniu com secretários de Segurança Pública dos Estados e tem demonstrado preocupação e articulação a fim de que a União assuma suas responsabilidades e lidere um Plano Nacional para redução da violência.

Da mesma forma, é positivo o debate que envolve – em âmbito mundial – a redução do número de armas, com a proibição da sua comercialização livremente. Não acredito que possa ser normal se vender armas como se vende água. Da mesma forma, é aplaudível e necessária a criminalização da homofobia, o aumento da inteligência dos órgãos de segurança, o combate efetivo ao tráfico de drogas, o aumento de pena para crimes de estupro… ações essenciais.  

O mais importante em toda essa discussão, no entanto, e sei da dificuldade – uma quimera, quase uma utopia, mas que precisa ser nossa obsessão –, é adotarmos uma nova cultura de paz. Uma cultura de valorização do outro como ser humano, que tem o direito de viver e de ser respeitado como indivíduo. De tolerância. De diálogo.

A vida não é descartável. Precisa ser valorizada no Brasil, nos Estados Unidos, na Síria, na Ucrânia, no Sudão, em todo o mundo. Desculpo-me pela pieguice. Mas quero terminar com uma estrofe daquele que considero ser o ‘hino mundial da paz’. Porque acredito fielmente que essa mudança para uma cultura mundial da paz começa por cada um. Na reflexão e na tomada de atitude individual, em ações do nosso dia a dia, na relação com os outros em todos os ambientes que frequentamos. Em casa, no trabalho, nas praças, no bar, no trânsito… na vida.

“Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Espero que um dia você junte-se a nós. E o mundo viverá como um só” – John Winston Ono Lennon (1971).

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