Caminhada de dois irmãos unidos pela vida. Dedico esta história familiar à memória do nosso inesquecível Agenor de Mello Filho
|A vida é um dom de Deus. É o Criador, o motor, a fonte, a origem de todas as criaturas. O Senhor tem a vida em Si Mesmo e decidiu nos criar à sua imagem e semelhança. Temos, assim, a imensa dignidade de Filhos de Deus e, como filhos, somos Herdeiros da Casa do Pai.
Nosso nascimento é um milagre pela miraculosa gestação no ventre de nossas mães. Certamente não viemos neste mundo por acaso. Somos frutos da Santa Vontade e da Bondade do Senhor, executando para todos nós seu plano de Amor.
Existia um casal disposto a formar uma grande família, Agenor de Mello (*01/12/1907 a 21/01/2001) e Maria Dantas de Mello (*28/02/1910 a 06/09/1989). Casaram-se em maio de 1.926, ele com 18 e ela apenas com 16 anos. Mamãe me confidenciou que, nessa época, ainda tinha vontade de possuir e brincar com bonecas.
Eram pessoas simples e tementes a Deus, com o coração repleto de Amor. O Senhor olhou para a humildade deles e planejou confiar-lhes a criação de 07 (sete) filhos. Apesar da simplicidade de suas vidas, eram cheios de fé e muita disposição ao trabalho para a missão, que seria grandiosa.
Os filhos foram chegando: Narcy (08-03-1927), Mariinha (15-02-1929), José (29-09-1930), Waldir (05-10-1932), Waldemar (08-03-1936), Agenor (23-12-1937) e, por derradeiro, eu (03/10/1939), o caçula. Como percebem, em razão da nossa pequena diferença de idade, eu e Agenor sempre fomos irmãos inseparáveis. Juntos, freqüentamos o curso de primeiro grau do Colégio Nossa Senhora do Carmo. Segundo grau e colegial, no Colégio São José de Pouso Alegre. Daí, partimos para Juiz de Fora, prestamos o exame Vestibular e, em 1958, ingressamos na Faculdade de Direito da Universidade de Juiz de Fora/MG. Nossa formatura aconteceu em 13/12/1962, no Cine Teatro Central.
Em janeiro 1963, comecei a exercer a Advocacia em geral, aqui em Borda, enquanto o Agenor optou por ficar em Juiz de Fora, onde também abriu um escritório de advocacia. Ali, desde 1961, trabalhava também no Banco de Crédito Real onde permaneceu. Nossa turma de universitários morava à Rua Padre Matias, nº 49, época em que ele conseguiu uma linda namorada, Leda Souza Lima. Revelou-me que ela o encantava com seus olhos de pitangas. O namoro foi sério e, apaixonados, se casaram, em julho de 1964. Quanto a mim, embora mais novo, casei-me aqui em Borda com a jovem dos meus sonhos, Mariinha Jóia, em 10/12/1963.
Aconteceu um fato curioso em nossas vidas. Quando do nascimento de nosso segundo filho, em 08/04/1966, fui ao correio enviar um telegrama, comunicando ao Agenor e Leda que chegara meu amado filho Luiz Gustavo. Na ocasião, recebi também de meu mano a notícia de que nascera seu filho varão, César Augusto. De há muito, interpreto esta feliz coincidência como sinal do céu, selando as nossas vidas de irmãos verdadeiramente unidos.
O Agenor não escondia e fazia questão de me chamar de “irmão do coração”. Constituiu-me seu procurador, portanto, como pessoa da sua mais estreita amizade. Não tenho palavras para agradecê-lo por me dedicar tamanha afeição e total confiança. Novamente, quero dizer-lhe, irmão querido e inesquecível, que a recíproca é verdadeira. Está revelado, em Cor, 13, 8, que “oAmor jamais morrerá”. Sentimento imortal.
Em meados de janeiro deste ano, ao chegar pela manhã na casa do mano, encontrei a Leda, entristecida, e que logo me falou da forte queda do Agenor. Começou, então, o seu calvário. De um hospital a outro, até Juiz de Fora, onde foi internado. Apesar dos esforços dos médicos e enfermeiros, dedicados, que o assistiram, veio a falecer na madrugada do dia 04 de março.
Nenhum homem ou mulher poderá desejar nada mais do que aconteceu com meu amado irmão. Entregar sua alma a Deus, cheio de fé no coração, cercado pelo carinho e grande amor de sua esposa, filhos, irmãos, netos e demais familiares. Muitas vezes o Agenor, mesmo no leito mortal, repetiu a frase: “Jesus me carrega no colo”.
O Agenor foi um homem esforçado, trabalhador e muito competente. Do seu casamento com Leda, tiveram dois filhos: Márcia Érica e César Augusto. Dos filhos vieram os netos: Ana,Andressa, Alessandra, Matheus e Maria Eduarda. O casal enfrentou dificuldades, todas superadas com perseverança e otimismo. Sua história de vida é muito rica.
Não quero me estender, mas pelo menos preciso registrar que o Agenor, de 1971 a 1974, fez também o Curso de Administração de Empresas pela Faculdade Machado Sobrinho de Juiz de Fora. Em 1975, contratado pela Companhia Industrial da cidade de Cataguases/MG, exerceu o cargo de Diretor do Setor de Recursos Humanos. Na Crise dos Tecidos que se abateu sobre o Brasil, com a intensificação do comércio de produtos e tecidos chineses, em 1981, após seis anos de trabalho, foi dispensado pela empresa. Enfrentou alguns meses de apreensões, com sua família, até que surgiu a oportunidade do Concurso à Magistratura de Minas Gerais. Então, dedicou-se exclusivamente aos estudos, com afinco, culminando com sua aprovação e ingresso na Magistratura Mineira, em 1982. Exerceu as funções de Juiz de Direito em várias Comarcas, inclusive nas grandes e notáveis cidades de Barbacena e Juiz de Fora, onde encerrou a carreira por sua merecida aposentadoria.
Preciso revelar algo muito importante. Quando o Agenor passou no concurso da Magistratura de Minas, disse-nos que, ao ficar desempregado, julgou que o Senhor o abandonara. Porém, depois, confidenciou-nos: “Na verdade, Jesus me carregava no colo”. Teve a certeza de que se o pior não tivesse acontecido, não teria recebido a grande graça de ser aprovado para assumir tão honroso cargo.
Com certeza, o ser humano jamais irá se conformar com a morte, embora saiba ser acontecimento inevitável e realmente democrático. Atinge a todos sem distinção de raça, cor ou crença; a ricos e pobres, a cultos e incultos, a reis e servos, a príncipes e plebeus.
Começamos a vida em cargos mais simples, como aconteceu com meu irmão. Sua vida, Agenorzinho, serve de exemplo para nós que sentimos demais sua ausência. Que Jesus e Nossa Senhora do Carmo confortem os corações feridos de sua esposa, filhos, netos, irmãos, cunhados, sobrinhos, primos, demais parentes e amigos!
Você, querido irmão do coração, deixou-nos um rico legado de Amor à família, honestidade e dedicação ao trabalho. Cumpriu bem a sua missão, sempre com Fé e Esperança, até que, aos 84 anos, o Senhor o chamou para a plenitude da felicidade ETERNA.
Borda da Mata, 31 de março de 2022.
Gustavo Dantas de Melo