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O dilema da beleza

A obsessão por uma aparência perfeita aflige diversas pessoas. Muitas meninas jovens, na busca por aceitação e adequação a um padrão de beleza, desenvolvem uma espécie de baixa autoestima precoce

A preocupação com a beleza física não é nenhuma novidade nos dias atuais. No entanto, com a ajuda da internet e, consequentemente das mídias sociais, essa obsessão pela aparência perfeita aumentou. Um exemplo preocupante disso é um fenômeno que ocorre nos Estados Unidos desde o fim do ano passado e que ganhou força neste ano. São mais de 900 mil vídeos no Youtube em que jovens entre 10 e 16 anos lançam a pergunta “I’m pretty or ugly?”, (Sou bonita ou sou feia?). Nestes vídeos muitas meninas falam sobre si, mostram fotos, desfilam para câmera e pedem para que as pessoas “deixem opiniões sinceras” sobre a aparência delas e, em muitas respostas, as críticas são carregadas de maldade. “Elas dizem estar preparadas para os comentários que forem feitos, porém a verdade é que não estão. Este é um tipo de exposição perigosa que demanda maturidade para lidar com tudo isso, algo inexistente nessa idade”, comenta Maura de Albanesi, psicoterapeuta de São Paulo.

O que chama atenção neste fenômeno é que são praticamente crianças, ainda entrando na adolescência, com uma preocupação muito grande com sua aparência e essa fixação exacerbada é reflexo da insegurança em si. Jovens nessa idade ainda estão em fase de construção da personalidade. “A personalidade é um conjunto de características comportamentais relacionadas à inteligência, caráter, consciência e outros fatores que definem cada um de nós. É algo puramente individual, que se constrói com o passar do tempo. A falta de confiança em si, o medo de ser julgada e a busca por aprovação constante são pontos que denotam um comportamento compreensível neste momento da vida, porém, na sociedade atual há um grande exagero nisso tudo, o que é perigoso”, explica a psicoterapeuta.

Segundo Maura, isso é uma espécie de baixa autoestima precoce, causada, diretamente, por um mundo cheio de estímulos à superficialidade. “Vejamos, por exemplo, o mercado de beleza. São inúmeros produtos e serviços que prometem milagres, a solução dos problemas e tudo isso, supostamente, permite a adequação ao padrão de beleza estabelecido. Mas esse padrão de beleza engana e vende uma ideia de felicidade que não existe, que é vaga e supérflua”, diz Maura.

Todos querem ser aceitos, porém os caminhos para conseguir esta “aceitação” começam pelo autoconhecimento, e esse é um ensinamento que deve ser dado, principalmente, pelos pais. A autoestima está intimamente ligada ao conhecimento que temos sobre nós. Quando se sabe quem é, do que gosta ou não, quais são os pontos fracos e fortes, talentos, medos e etc., o indivíduo desenvolve um grau de satisfação consigo que é enorme, e gratificante. “Os pais devem ensinar aos filhos que todos temos limitações e qualidades, estimular a autopercepção. O que deve ficar claro é que não são os outros que devem nos apontar falhas ou defeitos, essa análise deve partir do interior de cada um, bem como as consequentes mudanças”, finaliza a especialista.

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