Edição impressaConfira a última edição impressa

Estudo revela que cada vez mais lideranças escolares inovam na construção de uma escola colaborativa e eficaz

escola

A Avalia Educacional e a Editora Moderna divulgam os resultados da pesquisa: “Educação: Planejamento e gestão nas escolas particulares”. O levantamento foi realizado em 67 escolas particulares de Brasília (DF), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP), durante o último trimestre de 2015. No total, 5.564 pessoas participaram do estudo, entre estudantes, professores, familiares e gestores educacionais.

Comparar as visões de pais, alunos e professores com a percepção dos próprios gestores possibilitou observar dados que ajudam a descontruir a imagem recorrente, especialmente dos diretores, como agentes restritos às atividades técnico-burocráticas da escola. Para o Dr. Adolfo Ignacio Calderón, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Campinas e consultor da Avalia Educacional, os dados da pesquisa revelam que cada vez mais lideranças escolares, desejosas de construir uma escola eficaz, não se limitam a funções estritamente administrativas para inovar e construir uma “escola da aprendizagem”.

“O estudo também reforça a importância de avaliações contínuas que proporcionem a autorreflexão escolar para a renovação e melhoria das práticas de gestão que, ao mesmo tempo, apontem caminhos para o maior envolvimento das famílias e maximização do papel dos professores, uma vez que esses são fatores determinantes para o desempenho dos alunos”, aponta Juliana Miranda, gerente de avaliação da Avalia Educacional.

Ênfase nos processos de ensino e de aprendizagem

Boas práticas pedagógicas articuladas a sólidas rotinas escolares são essenciais para a aprendizagem dos alunos. Sob essa perspectiva, a pesquisa analisou a compreensão e a atuação dos gestores nesse processo. Nove em cada dez professores entendem que a equipe de gestão educacional está cada vez mais preocupada em estimular atividades inovadoras e 91,7% dos gestores afirmam que as boas práticas identificadas são incorporadas na rotina da escola. Em 83,5% das escolas, os processos de monitoramento do desempenho dos alunos refletem as metas de aprendizado. E na maioria delas (73,1%), esse monitoramento do desempenho e de práticas inovadoras de avaliação vem sendo desenvolvido pela própria escola.

A pesquisa revela a existência de uma escola que se abre para as mudanças principalmente no campo das boas práticas escolares, embora ainda haja muito o que fazer. “Trata-se de um processo em construção, de uma tendência que, a meu modo de ver, deveria se generalizar na gestão escolar. Atingir metas em termos de aprendizagem e, com isso, oferecer uma educação de qualidade, exige uma equipe de gestão preocupada em estimular de forma contínua atividades inovadoras; para isso, o monitoramento e avaliação do desempenho do aluno tem se revelado uma ferramenta fundamental”, destaca Calderón. Do ponto de vista das famílias, cerca de 85% considera adequados os métodos de ensino aplicados pela escola e avaliam positivamente os conteúdos das disciplinas comuns.

Sob a perspectiva dos gestores acerca do trabalho pedagógico, a quase totalidade dos gestores (97,7%) afirmou que a escola procura criar senso de responsabilidade nos alunos. Oito em cada dez buscam articular o planejamento entre as diversas áreas do conhecimento, a chamada interdisciplinaridade, e incentivar as famílias a dar continuidade a projetos relacionados à preservação do meio ambiente, da saúde e à conduta ética. Essa preocupação com a formação de competências cognitivas e sociais parece impactar a motivação escolar dos estudantes e está sendo reconhecida pelas famílias. Sete em cada dez alunos disseram ver relação entre o que estudam e o mundo e querem continuar estudando mesmo depois de se formarem na faculdade. Cerca de 85% das famílias concordam que a escola contribui para o desenvolvimento de competências úteis ao mundo do trabalho e estimula a prática de valores democráticos, como participação, diálogo e respeito às diferenças. “Este dado é muito positivo. Famílias satisfeitas com a educação de seus filhos são fundamentais e fortalecem a sinergia escola-família. A família que coopera com a instituição educacional, que também se sente responsável pela aprendizagem, se constitui em um dos pilares de uma escola eficaz, uma escola da aprendizagem”, afirma Calderón.

Planejamento participativo e colaborativo

É possível ampliar essa análise do trabalho da equipe de gestão ao considerar seu relacionamento com outros atores da comunidade, uma vez que a forma como as decisões são tomadas pode fazer a diferença no ambiente escolar. O tempo dedicado pela gestão à orientação e organização do trabalho dos professores foi considerado essencial para o planejamento pedagógico. 88,1% dos gestores afirmaram que as decisões são tomadas com a participação de todos; quase 90% disseram pautar suas decisões no Projeto Político-Pedagógico (PPP) de sua escola. Em 55% dos casos, o PPP foi elaborado com a participação efetiva de pais, alunos e professores.

O estudo investigou também a participação direta das famílias no espaço escolar. 96,6% dos gestores afirmaram abrir espaço para a participação familiar e quase metade contou que os pais ou os responsáveis são convidados a colaborar, até mesmo, com processos decisórios. Para os pesquisadores, essa participação contribui para a construção de um ambiente colaborativo na escola, principalmente, entre gestor-professor e entre os próprios professores. Oito em cada dez professores percebem um clima de cooperação entre seus pares de trabalho. Neste mesmo grupo, quase 90% manifestaram se sentir participante importante da escola e depositam confiança profissional na equipe de gestão educacional. O mesmo clima cooperativo foi reforçado pelos gestores – o trabalho em equipe como prática rotineira e o respeito mútuo entre os professores foram observados por 93,5% dos participantes.

Perfil dos gestores

A Avalia Educacional escutou 192 gestores nas cinco capitais em que a pesquisa foi realizada. Os dados mostram uma baixa rotatividade na carreira: 65% deles trabalham há seis anos ou mais na escola atual. Há também uma grande estabilidade: 90,2% dos gestores atuam na área da educação há pelo menos seis anos. Em Recife, esses números são ainda maiores, tendo 75% com mais de seis anos na escola atual e a totalidade apontou ter seis anos ou mais de atuação na área educacional.

Com relação à satisfação profissional, a vasta maioria (95%) considera seu trabalho fonte de realização e satisfação pessoal, sendo que 88,5% acredita ter o reconhecimento da mantenedora da escola. Algo ainda mais interessante: nove em cada dez gestores sente-se percebido como uma liderança legítima e profissionalmente competente pela comunidade escolar. Mesmo no Rio de Janeiro, onde esses índices foram mais baixos, a média se mantém muito elevada: 87,5%. Isso revela gestores satisfeitos e convictos de que exercem um papel de liderança frente à escola, o que resulta em uma percepção positiva da efetividade de seu trabalho pedagógico. Conforme Calderón, os dados revelam a existência de um clima escolar altamente positivo, para o qual as mantenedoras possuem papel fundamental na construção de um ambiente escolar proativo e saudável, não somente garantindo insumos escolares e criando a condições de construir projetos pedagógicos coerentes com sua missão institucional, mas também no campo simbólico, na valorização e reconhecimento do mérito dos gestores, fato que contribui para o empoderamento das lideranças na gestão escolar.

Add a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado.