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Mais educação também para o campo

O Brasil ainda convive com números inaceitáveis para um país de sua importância econômica e projeção internacional: segundo dados do Ministério da Educação, 23,18% da população do campo com mais de 15 anos são analfabetos – três vezes mais do que a porcentagem nas áreas urbanas (7,6%). Além disso, 50,9% dos alunos do meio rural não concluem o Ensino Fundamental. A escolaridade média das pessoas com mais de 15 anos no campo é de cerca de 4,5 anos, enquanto que, nas cidades, ela chega aos 7,8 anos. Tudo isso num país que já é a segunda potência agrícola do planeta – atrás apenas dos Estados Unidos –, com uma produção batendo na casa dos US$ 300 bilhões, exportações de US$ 95 bilhões e que tem cerca de 30 milhões de pessoas trabalhando em atividades agrícolas.

Para reverter esse quadro, a presidenta Dilma Rousseff lançou recentemente o Programa Nacional de Educação no Campo (Pronacampo), que terá investimentos de R$ 1,8 bilhão por ano, totalizando R$ 5,4 bilhões até 2014. O programa vai oferecer apoio técnico e financeiro aos estados e municípios para implementar a educação na área rural, com um conjunto de ações articuladas em quatro eixos: pedagógico; formação de professores; formação profissional e qualificação técnica.

Um dos objetivos imediatos do Pronacampo é estancar o fechamento das escolas na área rural – 13.691 só nos últimos anos. Isso ocorre devido à evasão da população de determinadas áreas, muitas vezes em função da expansão desordenada da fronteira agrícola. Então, escolas de menor porte são extintas e seus alunos transferidos para unidades mais distantes e maiores, muitas vezes na cidade. E muitos jovens são obrigados a percorrer distâncias cada vez mais longas para ter acesso à escola. Manter a escola viva é, então, um passo importante para evitar o êxodo rural e reduzir a pressão demográfica sobre as cidades.    

Há quase dez anos iniciamosem São Carlos (SP) um amplo programa de transporte de alunos da zona rural para as escolas da cidade, com investimentos de cerca de R$ 3,8 milhões anuais. Hoje são transportados diariamente 2,5 mil alunos. Na época, também foram abertos cursos de Educação para Jovens e Adultos (EJA) em assentamentos rurais do município. E também trabalhamos para proporcionar formação técnica ao pequeno produtor, criando o Centro Tecnológico da Agricultura Familiar (CTAF) “Alberto Crestana”, em parceria com o Governo Federal. 

Estávamos no caminho certo. Hoje, o Brasil começa a resgatar uma dívida histórica para com a população do campo, como bem lembrou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Vem, portanto, em boa hora o programa federal para atender às necessidades daqueles que produzem grande parte da riqueza do país.  

Newton Lima – Deputado federal (PT-SP), presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Federal. Foi prefeito de São Carlos e reitor da UFSCar.

 

 

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