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Os Judeus de Borda da Mata

Antigas famílias de Borda da Mata e região descendem de Judeus Sefarditas

 

Você conhece as origens de sua família? Até onde? Já se deu ao trabalho de perguntar aos mais antigos ou se aventurou a pesquisar como um detetive? Pois é, foi assim que eu comecei. Inicialmente a genealogia era para mim uma curiosidade, depois virou paixão e agora, segundo alguns amigos, já é vício. Mas eu paro quando quiser…

Começa com uma conversa com os pais e parentes mais velhos, depois o trabalho de investigação vai para os cemitérios e cartórios, passando por inventários comidos pelas traças e livros da igreja igualmente desgastados, com tinta borrada, apagada, abreviaturas e expressões latinas misteriosas, além de livros especializados, troca de experiências com colegas, muita paciência e dedicação e, certamente, uma boa dose de coragem e fé.

Quase que por acaso, me deparei nessas pesquisas com os Judeus Sefarditas, ou seja, os judeus da Península Ibérica (Portugal e Espanha). Expulsos da Espanha, pouco antes do “descobrimento” do Brasil, foram buscar refúgio em Portugal, onde após pouco tempo também foram convertidos à força ao Catolicismo, mas continuavam praticando o judaísmo de forma oculta, sendo chamados de “cristãos novos”, pois eram novos nessa fé.

Aos poucos a situação dos judeus lusitanos também foi ficando difícil, forçando muitas famílias a migrar para o Brasil e outros locais. Privados dos bens, da liberdade de crença, do exercício de cargos públicos e do ingresso no clero cristão, os judeus, mesmo sob o risco de irem para as fogueiras da Inquisição, continuaram atuando na sociedade como faziam antes, porém de forma mais escondida.

Para ser padre ou membro de alguma ordem religiosa ou militar, o candidato tinha que provar, dentre outras coisas, a “pureza de sangue”, ou seja, se era um cristão velho em suas linhagens paterna e materna. Para tanto, fazia-se uma investigação completa, averiguando se “o habilitando é cristão velho sem raça alguma de judeu, mouro, mourisco, mulato, cristão-novo, herege ou de outra qualquer infecta nação…”.

Para burlar o preconceito e a perseguição, muitos judeus falsificavam documentos e subornavam testemunhas, inclusive padres, que garantiam a tão falada “pureza racial” e assim ingressavam livremente nas ordens sacras, gozando então de amplos privilégios e regalias. Muitas dessas falsificações eram posteriormente descobertas, acontecendo de um primo se tornar padre e outro, com a mesma ascendência, ser barrado.

Praticamente toda a família BRANDÃO de Borda da Mata (da qual orgulhosamente descendo por minha avó paterna, Dona Santuza Coutinho Brandão Carneiro) é dessa linhagem que remonta a uma judia, Isabel Velho, citada como ancestral de um desses candidatos que forjaram provas e compraram testemunhas.

Já outros judeus ocupavam cargos importantes no governo português, alguns atuando como espiões na Síria e no Egito, na época das Grandes Navegações do Século XVI, revelando a Portugal informações sigilosas sobre as manobras navais dos Turcos com relação ao comércio das especiarias do Oriente, usando trajes de muçulmanos e outros disfarces, fingindo e fugindo constantemente das inúmeras perseguições.

Membros da antiga família dos Bicudo, esses cristãos novos são antepassados de boa parte da Família Coutinho, presente em todo o Sul de Minas, de alguns ramos dos Almeida, dos Souza, de várias linhagens de Tocos do Moji, dos Costa Manso de Itajubá, além de inúmeras outras, que nem seria possível nomeá-las todas, pois “farei a tua descendência numerosa como as estrelas do céu”.

Há uma lei recente em Portugal, de 2015, que garante o direito à cidadania Portuguesa a todos os descendentes de Judeus Sefarditas que puderem provar, por documentos, tal condição. Trata-se de uma “lei de reparação histórica”, uma forma de consertar os erros do passado, acolhendo atualmente, como cidadãos portugueses, os descendentes dos judeus expulsos ou convertidos à força, impedidos de praticar livremente a sua fé.

Vista por muitos como uma atitude louvável, num mundo que pede urgentemente o fim do preconceito e de toda forma de discriminação, a lei está, infelizmente, com os dias contados. A Espanha, que também concedia cidadania espanhola aos descendentes dos Sefarditas que expulsou, já revogou a lei.

Portugal caminha a passos largos para o mesmo destino, estando o governo lusitano prestes a regulamentar alguns critérios para conceder o tão sonhado benefício, o que pode ser um empecilho fatal para muitos brasileiros, que não teriam como atender a todos os requisitos e perderiam o direito. Quais critérios são esses? Ninguém sabe. Quando essa regulamentação será feita? A qualquer momento.

Não há tempo a perder para aqueles que por ventura se interessarem por uma cidadania europeia, que concede livre acesso a todos os países da Zona do Euro, e não apenas a Portugal. No entanto, não é o sobrenome em si que dá o direito, mas a descendência direta de um judeu, provada geração a geração por meio dos mais diversos documentos.

Foram justamente essas provas que descobri em minhas pesquisas e posso, portanto, documentar cada uma das mais de 10 gerações que nos separam, ou melhor, que nos unem, a esses Sefarditas.

O passado traz as sementes do futuro. “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.”

 

Nasci em Ouro Fino e há quase uma década comecei a buscar as origens de minha família. Meu pai é de Borda da Mata, onde se casou meu avô, Rubem Carneiro, chefe da antiga Estação de Trem. Sou Professor e Pesquisador, encantado com as possibilidades da Genealogia: descobrir novos (e antigos) parentes, desvendar mistérios do passado, como um detetive, comprovar ou refutar as antigas histórias contadas pelos avós e, não menos importante, poder requerer uma cidadania europeia, que será deixada de herança para minhas filhas.

Quem quiser conhecer mais sobre esse fascinante universo familiar, pode entrar em contato pelo email pablolcarneiro@yahoo.com.br.

 

 

 

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