Edição impressaConfira a última edição impressa

Pós fama: como artistas e executivos lidam com o fim dos tempos áureos?

Por Marcos Morita

A morte prematura de Robin Williams, em minha opinião um dos mais versáteis e carismáticos atores de Hollywood, trouxe a tona a questão do ostracismo em sua forma mais cruel: a depressão, o alcoolismo, as drogas e o suicídio, infelizmente algo comum no mundo artístico. Michael Jackson, Maria Callas, Elvis Presley, Marilyn Monroe, Ernst Hemingway, Van Gogh, Tchaikovsky, Walmor Chagas, Leila Lopes e Chorão, só para citar alguns exemplos. Para tentar entender o turbilhão que se passa em suas vidas, vejamos os cenários antes e depois.

Antes: milhares de fãs a procura de um autógrafo, o glamour das festas e recepções, a vida agitada dos shows, os contatos do meio artístico. Cachês milionários, aparições constantes na mídia, amigos em profusão, os homens e as mulheres mais lindas a disposição. Vigor físico e intelectual, roupas impecáveis, mansões, carros de ultimo tipo, motoristas, assistentes. Sentir-se imbatível, insuperável e um pouco dono do mundo seria algo normal e até aceitável nesta situação.

Depois: fim dos fãs clubes, shows escassos em cidades do interior, raras aparições em programas vespertinos de terceira linha, amigos que se contam nos dedos, festas de parentes aos domingos a tarde, cachês minguados. As rugas, os cabelos brancos, as roupas de outrora já fora de moda, dirigir o próprio carro, atender o telefone, preocupar-se com o orçamento doméstico. Para quem um dia já foi super-herói, levar uma vida de simples mortal pode ser arrasador.

Exageros a parte, conheço histórias de profissionais e executivos que se assemelham aos cenários que comentamos. Tristeza, depressão, arrependimento, raiva e inconformismo são sintomas decorrentes da perda do emprego e da aposentadoria forçada, para quem conviveu anos ou décadas com mordomias corporativas, voos internacionais, planos de saúde de primeira linha e um cartão de visitas que abria portas e contatos. Cair no ostracismo e tornar-se um simples mortal do dia para a noite pode ser um forte baque caso não se esteja preparado. Ir ao banco, ao correio, revisar o carro, consertar o computador e anotar os próprios recados, podem ser tarefas interessantes nas primeiras semanas.

Comparo a carreira de um executivo ao ciclo de vida de um produto, composto por quatro fases: introdução, crescimento, maturidade e declínio, o qual tem se tornado cada vez mais curto, face às inovações, tecnologias, globalização, competitividade e consumismo. Já se foi o tempo em que fogões e geladeiras duravam décadas na cozinha de nossas mães. Hoje compramos um computador, smartphone, eletrodoméstico ou veículo, já sabendo que em alguns meses ou anos estarão ultrapassados, seja em design ou desempenho.

As carreiras inexoravelmente seguem o mesmo movimento, onde cabelos brancos e óculos para presbiopia, também conhecida como vista cansada, já não são sinônimo de experiência adquirida, adquirindo conotações negativas nas corporações. Neste cenário de maior expectativa de vida e menor tempo útil como profissional, desenvolver uma nova ocupação torna-se essencial aos profissionais precavidos e cientes de que diferentemente de Antônio Fagundes e Natalia do Valle, não serão os queridos avós na próxima novela das nove.

Acredito que não haja uma hora mais correta ou adequada para se pensar no assunto, porém deixá-la para a fase do declínio pode não ser uma boa estratégia, já que alguns projetos consomem anos para se tornarem realidade ou prover um retorno financeiro satisfatório, caso não se consiga viver com as reservas acumuladas durante o período como executivo. Abrir um negócio, tornar-se consultor, conselheiro ou professor são atividades que requerem preparo e dedicação prévia.

Talvez uma boa estratégia seja aproveitar enquanto ainda se está na ativa para colocar seu plano B em prática. O contracheque garantido no final do mês e a rede de relacionamentos podem ajudá-lo a planejar a transição com mais calma, sozinho ou com o acompanhamento de um mentor. Ter uma nova atividade ou carreira certamente ajudará na dolorida perda do sobrenome corporativo, seja por aposentadoria compulsória, demissão, fusões ou aquisições, fatos comuns em épocas de vacas magras como agora.

Não obstante nenhum executivo ter uma legião de fãs a perder nas redes sociais, lidar com o apagar das luzes da ribalta, não ser atendido pelos antigos contatos que antes o bajulavam ou se ver obrigado a atuar em empresas mambembes de terceira linha pode ser uma situação bastante traumática, desgastante e até depressiva. Melhor não dar sopa para o azar, mesmo estando a milhares de quilômetros de Hollywood.

Marcos Morita é mestre em administração de empresas e professor da FIA-USP e Universidade Mackenzie. Especialistas em estratégias empresariais, é palestrante e colunista. Há vinte anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Add a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado.