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Professores estaduais debatem situação caótica em Minas

Reunidos em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, mais de 2 mil profissionais da área reclamam da falta de diálogo com o governo estadual e recebem com festa o candidato a governador Fernando Pimentel (PT)

A situação da educação pública em Minas é precária, os professores estão desmotivados, as escolas não tem estrutura e o governo do estado tem se negado a dialogar com a categoria.

Essa foi a principal conclusão da VII Conferência Estadual de Educação, promovida pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), que reuniu cerca de 2 mil educadores em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte.

Com o tema “Uma outra Educação para Minas é possível”, o encontro contou com a participação do candidato a governador pela coligação Minas Pra Você, Fernando Pimentel (PT), que foi recebido com festa no evento, do deputado estadual Rogério Correia (PT), pesquisadores da área, representantes de movimentos sociais e professores de todas as regiões do estado.

Segundo Pimentel, a situação realmente é crítica. “A educação em Minas está muito ruim. Basta conversar com qualquer professor da rede estadual de ensino e a gente recolhe o verdadeiro retrato da educação de Minas, que é muito diferente da propaganda que o governo do estado faz”, disse o candidato.

Segundo ele, é preciso valorizar a categoria com o pagamento do piso nacional e revitalizar as escolas.

“Os professores estão mal remunerados, desvalorizados, desmotivados, as escolas estão sem equipamentos, sem condições de trabalho adequado  para os professores e há um índice de evasão de alunos muito alto, especialmente no ensino médio”, frisou.

Pimentel reforçou o que pretende fazer no setor, se eleito.

“Vamos pagar o piso nacional, reformular a carreira de professores, valorizar o magistério, reequipar as escolas e dar aos mineiros e mineiras a educação de qualidade que eles merecem”, afirmou.

Durante a conferência, foram debatidas questões de políticas pedagógicas, estruturais e ligadas à situação dos trabalhadores do setor. A insatisfação com o governo atual deu o tom do encontro e norteou as discussões sobre as condições de trabalho dos professores e a ineficiência dos programas do governo estadual na área.

“A educação mineira está um caos em vários aspectos. Desde a situação do profissional, que não tem piso salarial e nem política de carreira, até as condições de trabalho. Hoje, um professor que começa no estado recebe a mesma remuneração de quem tem 20 anos de serviço”, disse Beatriz Cerqueira, coordenadora geral do Sind-UTE.

A falta de estrutura das escolas foi outro tema do debate. “Um estudo do Dieese demonstrou que falta estrutura na maior parte das escolas. Estamos numa situação crítica: mais de 600 escolas estaduais não têm sequer saneamento básico”, contou.

As dificuldades relatadas pela coordenadora do sindicato, referentes à falta de estrutura e baixa valorização dos profissionais, são vivenciadas no dia a dia de grande parte do educadores em todas as regiões do estado.

“Falta todo tipo de material pedagógico. Os computadores não funcionam nos laboratórios de informática. Os professores não têm recursos didáticos e as condições necessárias para exercer o seu trabalho com qualidade. As salas estão lotadas. Quando queremos desenvolver um projeto próprio, da escola e de interesse da comunidade, não temos apoio nenhum”, contou Carlos Alberto Athayde Morais, professor da rede estadual de Montes Claros há 22 anos.

Segundo Morais, os profissionais que denunciam as falhas são perseguidos pelo governo. “Somos perseguidos por estarmos denunciando as mentiras que o governo fala da educação e por lutarmos por salários mais dignos”, afirmou.

A mesma situação é denunciada pelo educador Paulo Henrique Santos Fonseca, de Belo Horizonte.  Segundo ele, os baixos salários obrigam os professores a buscar outros empregos, o que acaba afetando a qualidade do ensino oferecido aos alunos.

“O professor é obrigado a estar em mais de uma rede ou em mais de um trabalho. Isso impede que ele tenha uma preparação adequada e acaba prejudicando sua própria saúde”, explicou.

A estrutura física também foi apontada por Fonseca como um grande empecilho ao trabalho. “As escolas não têm quadras, refeitórios e bibliotecas. Este governo é do marketing e da propaganda. Se você visitar a escola, verá que a realidade não é nada disso que está sendo apresentado na TV”, disse.

A falta de diálogo da categoria com o governo estadual também foi apontada pelos participantes do encontro como um grande entrave.

“A secretaria publica resoluções determinando o cotidiano da educação sem nenhum diálogo com quem está dentro da escola, seja o professor, o aluno ou os pais dos alunos”, afirmou Beatriz.

A falta de acesso dos educadores ao governo também impressiona a professora de Ipatinga, Feliciana Saldanha, que está há 27 anos na rede estadual. “O governo negligencia todas as nossas reivindicações e faz o que bem entende. Não negocia”, contou.

Ensino técnico e recursos federais

Um dos temas de debate da conferência foi o Programa Reinventando o Ensino Médio, do governo do estado, que se propõe a oferecer um sexto horário com formação profissional e tecnológica aos estudantes.

Segundo os educadores, o programa não funciona na prática, porque as escolas não têm estrutura para isso e os educadores não tiveram treinamento adequado.

“O Reinventando o Ensino Médio é uma pseudoformação para um trabalho, que não atende nem o interesse imediato das empresas”, relatou Paulo Henrique Santos, educador da rede.

Segundo o deputado Rogério Correia (PT), o Reinventando não dialogou com o Pronatec, programa do governo federal que oferece ensino profissionalizante e, por isso, perdeu vagas no estado.

“Aqui em Minas não tivemos um convênio forte com o Pronatec, que possibilitasse às escolas estaduais avançar no sentido da educação profissional. O governo estadual inventou o Reinventando o Ensino Médio, sem adaptar escolas e professores para isso. Só levou a um cansaço maior de alunos e professores. Foi algo para substituir o Pronatec e fazer propaganda na televisão”, afirmou o deputado.

“Nossa expectativa é a eleição do Pimentel para reorganizar o ensino e libertar os professores deste autoritarismo que existe em Minas na educação”, ressaltou Correia.

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