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Solidariedade com o Haiti e um gesto pela dignidade humana

A tragédia no Haiti expõe de maneira muito contundente todas as feridas do subdesenvolvimento. Nesta nação carente de tudo, o terremoto teve consequências muito mais graves, não só em termos de vidas ceifadas, como também no tocante à infraestrutura, prédios do Estado e empresariais, moradias e logradouros urbanos.

A fragilidade das edificações e sua inadequação a intempéries e cataclismos, frequentes no Caribe, é, contudo, apenas uma das tristes vertentes do drama que assola os mais de oito milhões de habitantes do país. Infelizmente, a catástrofe já está fazendo recrudescer a violência, as milícias, os saques e assassinatos, contidos a duras penas pela força da ONU, coordenada pelas tropas brasileiras, com grande ajuda do Jogo da Paz, realizado em Porto Príncipe pela Seleção Brasileira de Futebol.  

Como se pode observar na mídia, as condições de segurança estão ficando cada vez mais graves capital. É lamentável constatar o aumento de casos de saques, linchamentos e execuções sumárias. Além do terremoto, haitianos estão matando seus irmãos e reorganizando as gangues do passado recente. É preciso conter tudo isso imediatamente. Não se pode perder, em meio à tragédia, os avanços conquistados nos últimos anos em termos de pacificação social.

Por tudo isso, é um comportamento esdrúxulo tratar a questão com abordagem política. Trata-se de um episódio que merece e justifica foco no campo absolutamente humanitário. Tampouco se admite transformar o caos do Haiti em bandeira ideológica, retórica nacionalista, afirmação de lideranças ou dividendos políticos. Entendida tal premissa, é lamentável, por exemplo, a bravata do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, que continua se arrogando o papel, por ninguém reconhecido, de herdeiro de Bolívar. Ele está sendo oportunista ao acusar injustamente os Estados Unidos de tentarem aproveitar a situação para ampliar domínios no Haiti. Ora, nada mais absurdo, quando se observa que norte-americanos e o governo brasileiro têm feito o máximo esforço no sentido de viabilizar a melhor e mais rápida ajuda possível, numa circunstância de muita dificuldade, inclusive logística.

A palavra de ordem é solidariedade e não política! Os brasileiros, felizmente, vêm dando um grande exemplo nesse sentido. Nossa tradicional fraternidade está entrando, de modo muito marcante, na história do Haiti, incluindo a presença, há alguns anos, de 1.500 soldados, alguns deles mortos no cumprimento do dever, o jogo da Seleção, a ajuda financeira e material agora ofertada.

Dra. Zilda Arns, esta grande brasileira, que também se despediu da vida quando ajudava ao próximo no Haiti, é um imenso exemplo da postura, de pessoas físicas, jurídicas e governos, que o país caribenho necessita neste momento. Lembro-me com respeito, admiração e emoção da presença de Dra. Zilda Arns na Feira BrasilPlast, em São Paulo, no ano de 2001. Na oportunidade, numerosas empresas do setor de transformação de plásticos doaram à Pastoral da Criança, por ela fundada, milhares de colheres-medida para administração do soro caseiro, caixas d’agua, bolas, mochilas, banheiras, brinquedos e seringas.

Na ocasião, em primoroso discurso, Dra. Zilda ressaltou “a importância das iniciativas empresariais na área social” e falou sobre o trabalho da Pastoral, que “conseguiu reduzir a mortalidade infantil nos locais onde atua a menos da metade da média nacional”.  Sábias palavras, nobres propósitos, eficazes resultados! As ações dessa inesquecível brasileira evidenciam que a responsabilidade social, tão premente no drama do Haiti, não tem ideologia e tampouco intenções que não sejam a valorização da vida. É só isso que o Haiti precisa! É só isso que o mundo necessita para extinguir o subdesenvolvimento, esse monstro persistente que continua alimentando guerras e caos social e conspirando contra a dignidade dos seres humanos!

 *Merheg Cachum é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria do Plástico (Sindiplast). 

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