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Humor ou bullyng?

Rita

Intimidação. Acossamento. Assédio. Insulto. Palavras da Língua Portuguesa que podem definir o tão propalado anglicismo “bullyng”, muitas vezes disfarçado de piada. Causa riso, causa popularidade ao autor. Exige raciocínio rápido e sofisticada percepção de quem o elabora. É preciso ser criativo e sem compaixão para praticá-lo.
Embora tenha recebido mais atenção há pouco tempo, o bullyng acompanha a humanidade, com relatos desde a Grécia Antiga, sendo a História marcada por insulto, linchamento social e moral, chantagem, violência psicológica e outras formas de dominação. O mundo sempre riu das tragédias alheias.
Hoje a questão do bullyng continua a ser relativa a poder e a subordinação, ligada ao conservadorismo e ao tradicionalismo criadores de estereótipos e responsáveis pela discriminação de grupos e minorias. Ainda assim, não se pode eximir a responsabilidade da mídia, do mercado e da moda que perpetuam e reforçam esse sectarismo, reverberando padrões de aparência, etnia, religião, região, convicção, modo de vida, profissão, etc.
Temas preconceituosos estão recorrentemente no topo dos gracejos e anedotas propaladas nos shows “stand up” e afins, enfraquecendo ainda mais quem não segue tais padrões ou não pode segui-los. Tais textos rasos espezinham mazelas e reafirmam pré-conceitos no palco, na plateia, no expectador. Sem que se perceba, a plateia ri-se da humilhação, do dedo forte na sua própria ferida, do seu próprio sangue escorrendo. Ri-se de seu povo, de sua cor, de sua origem, etc.
Rir a valer é o objetivo da plateia, já que a vida é difícil e exige momentos de distração total e esquecimento das dores do dia-a-dia. Para isso sempre existiu o humor? É preciso lembrar que o humor apresenta vários níveis de elaboração e percepção, sendo o mais superficial deles, o que aborda preconceitos. A plateia displicente não percebe que o estereótipo escrachado ali é ela própria, e, quanto mais ela ri, mais o comediante obtém lucro.
A sociedade tem reagido a esse tipo de humor, classificando-o como bullyng e utilizando-se dos Tribunais de Justiça. Constrangimentos e insultos ao indivíduo, ao grupo ou à minoria têm sido tratados legalmente, gerando suspensão de shows e programas de TV, cortes e indenizações.
Sendo assim, há esperança de que se abram os olhos das plateias e expectadores antes de baterem as palmas e que se vejam em suas mazelas, saindo do que lhe traz humilhação e do que compromete sua identidade.

(Maria Rita Costa Bertolaccini é professora de Música e
Pintura em Casa do Piano)

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