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Mioma uterino pode causar infertilidade. Mas, quase nunca está sozinho, diz especialista

Miomas são tumores benignos que têm origem nas células musculares do útero. Cerca de um terço das mulheres em idade reprodutiva terá de lidar com o problema – que pode estar relacionado à infertilidade. Pelo menos, é o que aponta a análise de 23 estudos sobre o assunto: independentemente de seu tipo ou localização, miomas estão associados a uma redução de 15% nos índices de gravidez; a uma redução de 30% nas taxas de nascidos vivos; e a um aumento de 67% nas taxas de aborto.

“O fato de muitas mulheres adiarem a gravidez por motivos pessoais e profissionais tem tornado a miomatose cada vez mais frequente no período reprodutivo e gestacional. Os miomas podem ser responsáveis por diversos problemas na gravidez e, inclusive, impedir a gestação por causa do risco aumentado para sangramento precoce e abortamentos, diz Assumpto Iaconelli Junior, ginecologista especialista em Medicina Reprodutiva e diretor do Grupo Fertility, com sede em São Paulo.

Mas, o médico chama atenção para o fato de que quase nunca o mioma é um problema isolado. Por isso, nem sempre a simples remoção do mioma (miomectomia) é um passaporte para a gravidez. “Observamos que em apenas 1% a 3% dos casos ele é o único responsável. Geralmente, está associado a outros problemas que impactam a gravidez, como a endometriose, que está presente em quase metade dessas pacientes. Por isso, diante de um quadro de infertilidade associada a um mioma uterino, é importante rastrear outros fatores associados.”

A boa notícia, na opinião de Iaconelli, é que a fertilização in vitro com transferência de embriões não sofre impacto por conta de afecções da pelve. “No entanto, é fundamental uma cavidade uterina bem preservada. Uma histeroscopia poderá fazer essa avaliação com bastante rigor.” Já com relação à retirada cirúrgica do mioma, o médico afirma que nem sempre ela é necessária: “Não existe benefício em extrair pequenos miomas subserosos, por exemplo. A miomectomia deve ser indicada apenas quando os tumores obstruírem as tubas uterinas, forem muito grandes, ou ainda quando oferecerem algum risco na hora do parto”.

Iaconelli afirma que a gravidez após a retirada do mioma exige um pré-natal rigoroso. Em casos mais graves, quando a cirurgia representa um risco maior e, portanto, é uma opção a ser bem analisada e discutida, pode-se considerar a vitrificação de oócitos ou o congelamento de embriões para eventual programa de cessão temporária do útero.  “Tratamentos não-cirúrgicos disponíveis hoje em dia também devem ser considerados caso a caso. Evidências apontam que o intervalo entre a extração do mioma (ou miomas) e a concepção não deva ser superior a doze meses – já que nesse período as taxas de sucesso da fertilização são maiores.”

De acordo com o especialista em Medicina Reprodutiva, o ponto crítico é estabelecer quais miomas interferem negativamente na fertilidade para poder indicar o tratamento adequado – sempre tendo em vista os resultados e possíveis complicações. “Pacientes com miomas submucosos ou intramucosos maiores que sete centímetros de diâmetro parecem se beneficiar com a miomectomia, principalmente quando realizamos a cirurgia um ano antes da concepção. Nos demais casos, ainda mais quando os miomas são pequenos ou subserosos, vale a pena discutir todas as possibilidades e seus desdobramentos antes de eleger uma opção de tratamento”.

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