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Piso salarial dos trabalhadores em frigoríficos é menos da metade do que o básico para sobreviver, segundo Dieese

 Insatisfeitos com o salário-base da categoria, trabalhadores em frigoríficos de todo o país unificam a luta pelo reajuste do piso nacional. Apesar da remuneração média do setor atingir R$ 1.058,43, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), levantados pelo Dieese, em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA) em 2010, o valor na folha de pagamento nas diferentes regiões varia entre R$ 816,87 e R$ 1.150,83, sendo que 28% recebe 1 ou 1,5 salário mínimo.

 Alguns dos problemas enfrentados neste quesito pelo setor são a influência do mercado estrangeiro na economia nacional e a alta rotatividade no emprego. De acordo com a pesquisa do Dieese, o setor contratou 134 mil novos trabalhadores, enquanto 120 mil se desligaram. Cerca de 38% deles (152.639 trabalhadores) possui menos de 1 ano no emprego, quando 15% do total está no máximo há 2 anos no mesmo posto de trabalho.

 Segundo o presidente da CNTA, Artur Bueno, o valor do piso salarial que está sendo discutido é de R$ 1 mil. O número corresponde a 50% do salário mínimo calculado pelo Dieese para satisfazer as necessidades mínimas dos trabalhadores brasileiros. Confiante, Artur acredita que a hipótese de demissões em massa com a partir da negociação do piso está descartada. “O aumento de salário não gera demissão e, sim, mais emprego porque quando o consumo é maior acaba gerando mais postos de trabalho”, diz.

 De acordo com pesquisa realizada em 2010 pela CNTA, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Instituto Itapuy, nas indústrias de carne de Pelotas, Alegrete, São Gabriel e Bagé (RS), 71,4% dos trabalhadores não estão satisfeitos com a remuneração e 67,1% admite fazer hora extra para poder arcar com as despesas básicas. Enquanto isso, só o setor bovino registrou, em 2010, o faturamento aproximado de R$ 70 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafi).

 Trabalhador há 9 anos, Pedro Luis Lopes, 31 anos, costuma prolongar a jornada de trabalho em uma indústria de frangos para garantir o sustento da esposa, Vivian Michelini, e do filho, Pedro Luis Lopes da Silveira, 12 anos. Apesar do recente reajuste salarial de 8,5%, que aumentou para R$720,00 aremuneração no final do mês onde trabalha, ele torce para que o valor seja renegociado o quanto antes.

 “Acho que o reajuste foi pouco pela carga horária de trabalho que nós temos. Acaba que a gente trabalha só para pagar as contas no final do mês. Imagina você passar 12 horas longe da sua família e voltar só de madrugada. Minha esposa e meu filho pedem para eu sair do emprego, mas não posso pedir as contas”, desabafa.

 DIESSE

Todos os meses, o Dieese divulga a Pesquisa Nacional da Cesta Básica, responsável pela avaliação do gasto do trabalhador com os produtos e as quantidades necessárias para a alimentação, segundo decreto 399 de 1938.

 Apesar de a Constituição estabelecer que o salário mínimo deve suprir as necessidades básicas do trabalhador como alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o menor valor pago deveria ser de R$ 2.212,66, o que corresponde a 4,06 vezes o mínimo de R$ 545,00, em vigor atualmente, segundo pesquisa feita em julho de 2011.

 Por ser calculado mensalmente, o valor do Salário Mínimo Necessário varia. No entanto, desde 2010, o valor entre R$ 2 mil e R$ 2,2 mil é mantido. O piso salarial de R$ 1 mil, na opinião do presidente da CNTA, seria o ideal para o início de uma política progressiva, já que equivale a metade do valor do Salário Mínimo Necessário.

 Manifesto

 Os trabalhadores das indústrias de alimentação farão na próxima quinta-feira (22/09), em Brasília (DF), uma manifestação pela valorização do trabalhador, com a participação de várias entidades sindicais. A categoria, que conta com mais de 2 milhões de trabalhadores, sendo 500 mil somente na área de frigoríficos, lutam pela criação de um parâmetro nacional do piso salarial e melhoria das condições de trabalho. A manifestação terá concentração às 9h, atrás do Teatro Nacional, em Brasília (DF), com passeata até a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), localizada no Setor Bancário Norte – Quadra 1.

 Mais de 200 entidades de diversas categorias já confirmaram presença e deverão ser recebidas pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. A ação faz parte do encerramento do 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins, que ocorre entre os dias 20 e 22 de setembro, no Centro de Treinamento Educacional (CTE/CNTI), em Luziânia (GO). A categoria se prepara para indicativo de greve e paralização da produção nacional, caso as negociações com as indústrias do setor não avancem. A greve atingirá principalmente os estados de maior produção como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, refletindo no abastecimento de carnes e demais produtos alimentícios em todo o país.

 

 

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