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A TRADIÇÃO DA MULHER QUE ENXUGOU O ROSTO DE JESUS

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Não vos comove isto, a todos vós que passais pelo caminho? Considerai e vede, se há dor igual a minha, que veio sobre mim. (Lamentações de Jeremias – 1:12)

Quem foi este ser de  luto eterno a vibrar a voz  num pranto constante no alto da escadaria, durante a procissão do Senhor Morto a desenrolar seu sudário?  Afinal quem foi Verônica?

Segundo o pesquisador Dr. José Geraldo de Souza, nos Atos Apócrifos de Pilatos, designavam este pano por Berônica, Bernice ou Berenice. Destas formas originou-se “Verônica” derivada de raízes etimológicas grega e latina formando “VERA EICÓN” = VERDADEIRA IMAGEM, sendo este termo de uso bizantino a partir da Idade Média. Portanto o nome Verônica diz respeito ao tecido, no qual estampou-se o rosto de Cristo e mais tarde passou a designar a personagem que teria enxugado o rosto do mesmo.

Por volta do século XII, Pedro di Nallio, comenta sobre uma antiga tradição, na qual  Jesus permitiu a impressão de seu rosto em um lenço de linho chamado Sudário (da raiz latina sudorem – suor) no momento do encontro com as piedosas mulheres de Jerusalém.  Deste linho (verônica ou sudário) foram feitas diversas cópias. Todavia, já existia na Basílica de Roma, uma edícula destinada a relíquia, feita pelo papa João VII (705-707), a qual foi destruída em 1606, sendo erigido outro nicho logo em seguida. A cópia atual na tribuna da cúpula de São Pedro, foi posta em 21 de maio de 1606, estando em uma urna de prata, protegida por Lâminas de cristal e véu de seda.  Consta atualmente que o Santuário de Manoppello acolhe a relíquia, conhecida antigamente como «a mãe de todos os ícones», confiada aos Freis Menores Capuchinhos, encontra-se em um pequeno povoado dos Abruzos, nos montes Apeninos, a uns 200 quilômetros de Roma. O Santo Rosto é um véu de 17×24 centímetros. Pe. Heinrich Pfeiffer S.I., professor de iconologia e história da arte cristã na Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma, assegurara que se trata do véu da Verônica que antes se custodiava no Vaticano.

De acordo com o cronista Grimaldi, o sudário foi entregue por testamento a Clemente I,  por volta do ano 92 a 101, porém o mesmo estava em Roma desde o ano 34.  Conta-se ainda que o Imperador Tibério foi curado de lepra através desta verônica. Atribui-se ao Papa João XXII (1316-1334) o hino “Salve Sancta Facies” (salve santa face) consentindo indulgência a quem o recitasse olhando para ao sudário. A veneração da Verônica está ainda na Sexta Estação da Via Crucis. A Verônica representa a compaixão, a piedade, a comoção, o amor para com o próximo. Talvez esta representação seja ainda muito necessária num mundo tão individualista em que as pessoas pouco se importam com o sofrimento alheio. Talvez precisamos deste exemplo de amor e compaixão, para que possamos enxugar o nosso próprio rosto para delinearmos melhor o nosso caminho e quem sabe ao fazermos isso nele não estará estampado a Verdadeira Imagem, ou seja, o semblante do nosso Criador.Professor Valter CassalhoSecretário da Comissão Paulista de FolcloreMembro da Associação Brasileira de Folclore

foto crédito – andré collins

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