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Armas na Igreja: funcionaria no Brasil?

Após diversos casos de tiroteio em templos e igrejas nos Estados Unidos, e a aprovação por alguns estados americanos de uma lei que permite o transporte oculto de armas em igrejas para defesa, o debate sobre o assunto reascendeu.

 

De acordo com o site de notícias americano The Huffington Post, a presença de pessoas armadas em igrejas divide opiniões. Entre os religiosos, uns afirmam que fé e arma não combinam, enquanto outros acreditam que apenas a fé não é suficiente, apontando para a violência crescente nas igrejas. Tanto os que são contrários, quanto os que são a favor, dizem ter Deus ao seu lado.

 

O consultor de segurança de igreja e vítima de pelo menos dois tiroteios dentro de organizações cristãs, Carl Chinn, no dia 10 de setembro irá liderar um seminário sobre o assunto para diversas organizações em Oak Creek, Wisconsin – a mesma comunidade onde há um ano um atirador abriu fogo em um templo Sikh, matando seis pessoas e ferindo quatro.

 

Chinn sugere que membros frequentadores designados da igreja recebam treinamento com arma e acredita que “não há nada como uma arma de fogo para poder parar outra arma de fogo”. A postura não é simplesmente de retaliar, mas de proteger a igreja contra possíveis ataques. Para isso, aconselha que a resposta em caso de ataque seja realizada por pessoas treinadas.

 

Em 1996, Chinn foi mantido refém por um homem armado enquanto trabalhava na Focus on the Family. Nove anos depois, ele estava em meio ao tiroteio da Igreja New Life, no Colorado, que deixou duas jovens irmãs mortas. Durante o último ataque, um guarda armado da igreja disparou e feriu o agressor. Segundo Chinn, as pessoas foram salvas porque o segurança tinha uma arma.

 

A ideia foi adotada por líderes religiosos que criaram uma instituição para colocar isso em prática. A National Organization of Church Safety and Security, no Texas, havia treinado apenas 24 pastores a partir de 2010. Mas agora, há 30 pessoas empenhadas nas 55 horas de treinamento com armas e cursos necessários para que se tornem guardas de segurança.

 

Uma pastora evangélica, no Kansas, aderiu a ideia. Alguns serviços oferecidos pela igreja, como aconselhamento para casais com problemas conjugais e para pessoas envolvidas em disputas de custódia, a fizeram pensar sobre a vulnerabilidade da comunidade de sua igreja. Ela comprou uma arma há cerca de um ano, recebeu treinamento e leva sua pistola na bolsa para os cultos que participa. Ela nunca teve de retirar sua arma da bolsa.

 

Paul Williams, um padre franciscano de Wilmington, Delaware, que teve uma arma apontada para si e seu carro roubado, revela como as emoções tomam conta no momento. O padre e os seus paroquianos fizeram uma petição para orar pela vida do criminoso e para pôr um fim à violência.

 

Em fevereiro, o estado americano de Arkansas, aprovou uma lei que permite o transporte oculto de armas em igrejas. Em julho, a legislação também foi aprovada nos estados Dakota do Norte e Ilinóis.

 

No Brasil

Ataques a fiéis em igrejas e templos não são exclusividade norte-americana. Casos semelhantes são registrados constantemente em diversos países, inclusive no Brasil. Em janeiro deste ano, um adolescente efetuou vários disparos na saída de culto evangélico em Belém, atingindo uma criança de oito anos na perna.

 

Em março, um pastor de 56 anos foi assassinado com quatro tiros quando pintava a calçada da igreja onde ministrava cultos, em Goiás. No mesmo mês, em Sumaré, interior de São Paulo, dois homens incomodados com o volume do som de um culto invadiram uma igreja e provocaram um tumulto. Um dos invasores atirou e atingiu um rapaz no braço.

 

Em maio, uma igreja evangélica localizada em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, também foi palco de cenas de terror. Um homem chegou atirando no local no momento de um culto. Os tiros atingiram quatro pessoas. Uma delas morreu e outras três ficaram feridas.

 

Em todos os casos, não houve reação por parte dos frequentadores das igrejas e a lei de acesso às armas não foi capaz de impedir os ataques e as mortes. A lei brasileira proíbe o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo em casos excepcionais. A Polícia Federal poderá conceder o porte de arma de fogo, desde que o requerente demonstre a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física, além de atender as demais exigências impostas pelo Estatuto do Desarmamento.

 

Além disso, o titular de porte de arma de fogo para defesa pessoal não poderá conduzi-la ostensivamente, adentrar ou permanecer em locais públicos, tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, agências bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em virtude de eventos de qualquer natureza.

 

Porém, o que se vê, sobretudo quando o assassino permanece vivo, é a escolha criteriosa desses locais para os ataques, pois ali não há chance de reação da vítima, o que pode impedir a ação, cessando sua investida.

 

 

 

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