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As crianças não gastam o que consomem, alerta o especialista em nutrição infantil Carlos Nogueira

A obesidade infantil tem um vilão: a falta de equilíbrio entre a genética e os aspectos ambientais. De acordo com Carlos Alberto Nogueira de Almeida, médico especializado em nutrição infantil da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), enquanto a genética humana se manteve nos últimos cem anos, o desenvolvimento tecnológico promoveu mudanças radicais no cotidiano das famílias. “Antes as pessoas tinham um gasto de energia compatível com o que comiam. Hoje, isso não acontece”, afirma.

Segundo o especialista, o ser humano tem uma tendência natural a engordar – o que garante a sobrevivência da espécie em ambientes de privação alimentar, porque o organismo consegue acumular gordura como reserva de energia. “São poucas as oportunidades atuais para a criança usar sua energia de forma espontânea. Por isso, os pais precisam proporcionar essas ocasiões, incluindo o exercício físico regular entre as atividades da rotina dos filhos”, reforça o especialista.

No caso da obesidade infantil, os pais são os principais responsáveis pela prevenção e pelo tratamento. “É preciso que eles deem o exemplo e participem diretamente da alimentação dos filhos. A família deve procurar um profissional para orientá-la como se alimentar corretamente, até mesmo para prevenir a obesidade, e essa educação nutricional passa pela decisão de impor limites aos filhos”, ressalta o diretor da Abran. “O importante é haver um equilíbrio entre o que se consome e o que se gasta. Apontar um vilão e excluí-lo da alimentação não resolve o problema.” Segundo o médico, as pessoas devem ter uma alimentação equilibrada, contemplando carboidratos, proteínas e gordura de acordo com as necessidades diárias. “É um equívoco culpar, por exemplo, os carboidratos, pois eles deveriam ser fonte de 50% de nossas calorias”, diz.

Nogueira afirma que a restrição alimentar só é necessária em casos de doenças preexistentes, por exemplo, quem tem sensibilidade à lactose não deve consumir leite. No entanto, é importante considerar as ocasiões de consumo e não comer mais do que pode gastar. “O excesso é o problema”, alerta. “Mais de 50% das crianças brasileiras estão obesas ou acima do peso. Isso significa que, em uma família de dois filhos, é provável que pelo menos um terá problemas por conta da alimentação. É preciso aprender a se alimentar para evitar a piora dessa realidade”, diz ele.

Para o médico, uma alimentação saudável tem algumas regras. “A quantidade deve ser o suficiente para o seu gasto calórico e é preciso promover o que chamamos de balanço energético. A adequação ao perfil da pessoa também é importante, pois uma criança não pode comer igual a uma mulher grávida. E a qualidade do cardápio também é importante, uma vez que é necessário consumir alimentos de fontes variadas, incluindo fibras, vitaminas e nutrientes”, aconselha.

Muitas crianças já apresentam consequências graves da obesidade, como o colesterol alto, a diabetes e a hipertensão, e em menores índices, problemas ortopédicos. “O mais desconfortável para uma criança obesa são as questões psicossociais. A autoestima e a convivência em sociedade são os que mais incomodam, pois ela é estigmatizada na escola e passa a apresentar distúrbios de comportamento”, analisa Nogueira.

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