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Cultura de massa: perigo real ao conceito de Cultura e Arte

Arte e cultura têm sido, nos últimos tempos, submetidas às regras do mercado capitalista e da ideologia da chamada indústria cultural. O conceito de arte e cultura tem se baseado na ideia da prática do consumo de “produtos culturais” fabricados em série, o que é lamentável. Além da imaginação, obras de arte e tradições culturais já estão sendo tratadas como mercadorias, de acordo com o que rege o capitalismo. Arte e cultura se apresentam massificadas para o consumo rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa, transformando-se em propaganda e publicidade, fazendo crer (os desavisados intelectuais) que refrões “grudentos” representam o povo e trazem algum resquício de um longínquo Brasil sertanejo.

Pobre de quem acredita que “tchutchutchu tchatcha” representa uma unha sequer do verdadeiro sertanejo, que está aqui, no sertão bem perto de nós, que não canta seu próprio nome, mas na simplicidade da Cultura verdadeira, dedilha sua viola e canta suas veredas, faz o artesanato que aprendeu com seus ancestrais, conta histórias de cócoras, fuma cigarro de palha e não combina em nada com os playboys de calça justa cantarolando em “cabritês”.

Há de se compreender que Cultura para o nosso povo são as Folias, os Terços cantados, as Congadas, as Catiras, as Procissões, as Lendas, os “Causos”, os Costumes e o dia-a-dia de nossa gente. Não compreendendo isto, deixamo-nos reféns do mercado, das produções repetitivas e manipuladoras, que têm como único propósito o lucro.

Arte e Cultura existem para serem contempladas. No entanto, sob o controle econômico e ideológico das empresas de comunicação artística, transformam-se em seu oposto: eventos para tornar invisível a realidade e o próprio trabalho criador das obras, algo para ser consumido e não para ser conhecido e superado por novas obras.

Há quem diga que tudo é cultura, que defenda, sem saber, os movimentos anticulturais como “cultura diversa”. Isso me parece uma tentativa desesperada de democratização, acesso a qualquer custo aos bens culturais e artísticos: ledo engano. Democracia cultural e artística não significa definir qualquer coisa como cultura, mesmo porque estamos mergulhados em produções anticulturais de proporções gigantescas. A chamada “indústria cultural” acarreta resultado de massificação do pensamento, sob a égide da falsa cultura. Por quê? Porque cria obras comuns, destinadas à massa. Assim, em vez de garantir o mesmo direito de todos à totalidade da produção cultural, a indústria cultural introduz a divisão social entre elite “cultural” e massa “inculta”. O que é massa? É um agregado sem forma e sem rosto, sem identidade e sem pleno direito à Cultura.

Definir a Cultura e a Arte como lazer e entretenimento, diversão e distração pode ser um perigo para quem “compra” essa ideia. Arte e Cultura perpassam pelo pensamento e pelo trabalho da sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica. Cultura e produção artística estão infinitamente ligadas à identidade de um povo, às suas origens, às suas tradições, ao seu cotidiano simples, jamais impondo culturas exteriores ou produções vulgares, meramente voltadas ao mercado econômico. Entenda-se bem: Simples não é vulgar nem banal. Para reiterar o que digo, seguem as palavras de Marilena Chauí: “Massificar é assim, banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e divulgar a Cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos conhecimentos.”

 

Maria Rita Costa Bertolaccini

Professora da Rede

Municipal de Ensino,

Presidente da Oficina de Lazer, Cultura e Iniciação Profissional

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