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Hepatite C – Implicações sociais na Saúde Pública

Inicialmente, dando as boas vindas ao cargo, ou melhor dito, ao “desafio” que hoje está assumindo, desejo publicamente sucesso no enfrentamento das verdadeiras epidemias que assolam o Brasil. Falarei, em seguida de alguns pontos que considero importantes no enfrentamento da hepatite C, que deveriam ser olhados com maior atenção pelo Departamento DST/AIDS/Hepatites.

Para enfrentar uma epidemia que atinge milhões de brasileiros, para a qual não existe vacina, mas que afortunadamente existem tratamentos que curam definitivamente a doença, o diagnóstico do maior número de infectados é o caminho para avaliar a necessidade de cuidados médicos, para salvar centenas de milhares de vidas e poupar recursos públicos.

No Brasil a hepatite C é uma das infecções mais comuns, de maior prevalência na população, sendo estimado, conforme o inquérito domiciliar realizado pelo ministério da saúde, que 1,38% da população estejam cronicamente infectadas. Isso significa aproximadamente 3 milhões de brasileiros infectados. O desafio a enfrentar é que 90% dos infectados não sabe que estão com a doença.

Dados publicados no Boletim Epidemiológico das Hepatites Virais 2012 do ministério da saúde comprovam que no Brasil 75,1% dos infectados tem mais de 40 anos de idade e que no período de 1999 a 2011 foram notificados no Sinan 82.041 casos confirmados de hepatite C. É alarmante observar no mesmo Boletim que no período foram registrados 30.931 óbitos por causa da hepatite C. Como são números oficiais fica evidente que 37,7% dos infectados diagnosticados foram a óbito no período de 11 anos.

Pior ainda, é estimado que até 75% dos casos diagnosticados não são notificados, tornando uma doença silenciosa em uma doença silenciada pelas estatísticas. Os números do Boletim certamente seriam até quatro vezes maiores se todos os casos fossem notificados.

Levantamento recente mostra uma situação ainda mais cruel. Até 60% dos diagnosticados positivos no teste de anticorpos não realizam a confirmação obrigatória por biologia molecular, isto é, por falta do PCR ficam abandonados, sem receberem cuidados ou tratamento. Estão infectados, mas ignorados e alijados do sistema de saúde e abandonados a sua própria sorte.

Atualmente a hepatite C mata mais que a AIDS, sendo a principal causa da necessidade de transplantes de fígado. A hepatite C é chamada da “assassina silenciosa”, já que por não apresentar sintomas agride de forma lenta e constante o fígado, levando 1 de cada 4 infectados a desenvolver cirrose ou câncer de fígado após 25 anos de ter acontecido a infecção.

Na década passada falávamos que estávamos sentados em cima de uma verdadeira bomba viral prestes a explodir. Na atualidade a bomba começou a explodir. Dos pacientes atualmente diagnosticados 57% já se encontram em estado avançado de fibrose (F3) ou cirrose (F4).

Dr. Fábio, o Brasil deve enfrentar seriamente a hepatite C realizando amplas campanhas de informação e diagnóstico para encontrar os infectados caso contrário estaremos cometendo o maior genocídio da historia da saúde pública. É urgente oferecer o teste da hepatite C a toda pessoa com idade entre 40 e 65 anos antes que até 600.000 brasileiros cheguem a cirrose ainda nesta década.

Em nome dos infectados renovo meus votos de sucesso e fico a disposição para sermos parceiros no enfrentamento das hepatites, pois somente trabalhando todos juntos, governo, sociedade civil, sociedades médicas, pesquisadores e fabricantes de medicamentos, poderemos vencer a guerra contra as hepatites.

Conhecendo sua experiência, capacidade e seriedade profissional fico confiante na esperança do ver o inicio de uma nova era no enfrentamento das hepatites.

Carlos Varaldo

Presidente do Grupo Otimismo

 

 

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