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Profissionais da área de segurança têm grandes chances de sofrer perda auditiva precoce

Pesquisa comprova: disparos de armas de fogo são um risco para a audição

Os altos índices de violência não deixam dúvidas quanto aos riscos a que estão submetidos os trabalhadores da área de segurança, mas há outro problema que, apesar de menos evidente, é muito recorrente nesse grupo: a perda de audição devido aos disparos com armas de fogo. Estudos de diferentes países sobre o perfil auditivo em militares e policiais demonstram um elevado índice de perda auditiva nestes segmentos da população.

A prática de tiro, comum na carreira militar e policial, é uma atividade que expõe o profissional ao ruído de impacto, o que pode causar efeitos irreversíveis na audição, de acordo com o estudo “Análise acústica e psicoacústica do ruído de armas utilizadas pela Polícia Militar”, conduzido pelos pesquisadores Heraldo Guida, Thiago Diniz e Sérgio Kinoshita, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em um batalhão da Polícia Militar de São Paulo.

Para se ter uma noção do quão alto e prejudicial o som do disparo de uma arma pode ser ao ouvido humano, o barulho de uma turbina de avião ou de uma caixa de som em um show de rock alcança aproximadamente 130 decibéis, enquanto o nível de ruído emitido pelas armas de fogo varia de 115 a 147 decibéis!

Quando o ouvido humano é exposto a ruído de impacto, a uma intensidade sonora da ordem de 120 decibéis ou superior, há o risco do trauma acústico. A carga sonora pode produzir lesões intensas como ruptura da membrana basilar e desorganização dos tecidos e células ciliadas, de maneira abrupta. Mesmo assim, a perda auditiva ainda não é preocupação em muitos desses profissionais e o resultado da negligência com a saúde auditiva pode ser percebido imediatamente – se houver trauma acústico – ou ao longo do tempo, com a perda da capacidade de ouvir.

Clinicamente, uma das consequências pode ser a perda auditiva neurossensorial imediata e permanente, uni ou bilateral, com presença de zumbido.

“Em alguns casos, a perda auditiva pode apresentar melhora após alguns dias, porém exposições permanentes a fortes ruídos podem lesionar as células ciliadas. A extensão e o grau do dano auditivo têm relação direta com a intensidade da pressão sonora, duração, frequência e a maior ou menor susceptibilidade do indivíduo”, explica a fonoaudióloga Isabela Gomes, da Telex Soluções Auditivas.

Os policiais e militares das Forças Armadas, dependendo da atividade que desenvolvem ao longo da carreira, podem ficar expostos tanto ao ruído contínuo e/ou intermitente, causado, por exemplo, por rádio comunicador e sirene de viaturas, como ao ruído de impacto das armas de fogo, o que os deixam suscetíveis a desenvolver perda de audição precoce. Entre as queixas mais frequentes desses profissionais estão zumbido, dor de cabeça, irritação e dificuldade de ouvir.

“A Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) – exposição continuada a sons acima de 80 decibéis – é um problema real enfrentado por muitos trabalhadores, inclusive integrantes da Polícia Militar e das Forças Armadas. Muitas pessoas procuram a Telex devido a problemas de audição decorrentes da profissão que exercem. São comuns os casos daqueles que sofreram perda auditiva por exposição ao ruído intenso ou trauma acústico”, revela a fonoaudióloga da Telex.

A perda da audição compromete a qualidade de vida do indivíduo, não só profissional quanto pessoalmente. Para quem convive em ambientes barulhentos ou, no caso de policiais, estão expostos a fortes ruídos que podem causar trauma acústico –principalmente durante os treinamentos de tiro – a fonoaudióloga recomenda o uso frequente de protetores auriculares, que reduzem o volume excessivo de ruído. Os protetores da Telex, por exemplo, são em silicone e moldados com a anatomia da orelha do indivíduo, diminuindo o barulho ambiente.

“Os protetores auriculares ajudam muito a diminuir o nível de ruído e seu uso no dia a dia evita a evolução da perda de audição. Porém, caso a pessoa já esteja com a audição comprometida, os médicos otorrinolaringologistas podem indicar o uso de aparelhos auditivos, que atualmente são modernos e bem discretos, capazes de tornar a pessoa apta a manter suas relações sociais novamente”, conclui Isabela Gomes.

Para o estudo no Batalhão da PM paulista, os pesquisadores da Unesp escolheram analisar as duas armas de fogo mais usadas durante os treinos de tiro e na rotina dos policiais: o revólver calibre 38 e pistola calibre 40. Durante os treinamentos no estande de tiros, o número de policiais participantes variou entre 12 e 15, e cada indivíduo efetuou 50 disparos. Deste modo, ocorreram 600 a 750 pulsos de impacto por período de treinamento. A duração dos pulsos foi de menos de um segundo e a intensidade dos ruídos ficou próxima de 120 decibéis.  Mas a Fundacentro (órgão do Ministério do Trabalho) considera que o limite máximo de nível de ruído para este número de impactos deve ser de 109 dB. Por isso, algumas ações são importantes para impedir a perda auditiva, como o monitoramento periódico da audição dos militares e um trabalho de treinamento e conscientização quanto ao uso de protetores auriculares.

 

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