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Recordações

Borda da Mata

Narcy de Mello

Eu não quero morrer neste São Paulo!
Meu Deus, qu’eu não morra já!
Inda sonho morar na minha Borda,
Ficar para sempre lá.

Que saudade dos tempos de criança,
Do meu grupo escolar,
Das fugidas para o Rio Mandu,
Onde eu ia nadar;

Das visitas ao velho buracão,
Para os saltos das alturas,
Brincadeiras de pique e de preso
E das demais travessuras;

Saudade de minhas férias na Palma
No vô Chicuta de Mello,
Contando estórias e fazendo coisas
Que hoje sequer revelo;

Das coroações de Nossa Senhora,
Durante Maio inteiro,
Filhas de Maria, marianinhos,
Cônego Adolfo Carneiro;

Saudades de tipos inesquecíveis
Como o velho Pai João,
Chico Cotinha e Zé Pula pula,
Do bom Dito Capitão.

Da Chica Torta na casa do padre,
Parte coberta de zinco;
Do sonso Orestes pé espalhado
Que só respondia Cinco;

Do Antonio Vermelho, com cobertor,
Que era levado as costas;
Do jogo do bicho, posto no poste.
Aguardando as apostas;

Da Dorica , no meio do jardim,
Cantando e agitando a saia;
Do Waldir e da turma que tocava.
Na banda da morofaia.

Do Cine São Pedro do Agenor,
Onde eu dançava na frente,
Antes de ver o filme do John Wayne,
Meu herói de adolescente;

Dos antigos carnavais, no cinema,
Cheios de animação.
Com suas guerras de lança perfume
E o rei Mômo, Geraldão;

Do Messias, do Dula, grande líder,
No futebol da cidade,
Das partidas do Borda e do América
De tanta rivalidade;

Saudade das histórias do Zé Moura,
Sopradas por Zé Borginho,
Junto a piadas de Ótavio Oriolo,
Sempre à mesa, num cantinho;

Das serenatas, em que o violão
Brigava e cantava amores,
Nas mãos corajosas do nosso amigo,
Newton da Dona Dolores;

Das noitadas de jogos, tão gostosas,
Lá na casa de meus pais,
Com papai, mamãe, tias e tios,
Que não voltarão jamais!

Meu Deus! Não deixe que eu morra agora,
Longe da minha cidade!
Pois, meu sonho, é voltar à minha origem,
Para curtir tanta saudade…

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